Em nossa matéria especial conversamos com empreendedores e especialistas para entender o atual cenário e de que forma os negócios estão se reinventando para sobreviver.
A cada semana em que se prolonga o estado de isolamento social e fechamento do comércio, os números sobre a economia surgem igualmente devastadores ao de infectados e mortos pela COVID-19 no Brasil, reforçando que estamos diante da maior crise econômica e de saúde vivida pela nossa geração.
Diante de um cenário como o atual, empreendedores tem se desdobrado para buscar alternativas que possibilitem o mínimo de manutenção de seus faturamentos, o que infelizmente nem sempre é possível. Apesar de todo o mercado estar sofrendo com os impactos do COVID-19, as Micro e Pequenas Empresas tem se mostrado nosso “grupo de risco” da economia, devido a falta de capital de giro para suportar grandes períodos sem clientes. Além disso, fatores como a ineficiência produtiva, dependência de apenas um modelo de aquisição de clientes e vendas, e baixa qualificação de muitos empreendedores, tem feito com que diariamente as portas de centenas de empresas sejam fechadas de forma definitiva.
Mesmo com tantos desafios e incertezas que começaram a fazer parte da jornada de todos os empreendedores brasileiros, muitos ainda acreditam que podem sair mais fortes deste cenário turbulento, e utilizando este período de baixa nos negócios para repensar estratégias de mercado, reduzir custos, estudar novas oportunidades, e definitivamente sair da zona de conforto e lugar comum.
Para ilustrar este atual momento, conversamos com empreendedores de diversos segmentos e com especialistas em negócios para entender como as micro e pequenas empresas estão enfrentando a quarentena, e como analisam o cenário de reabertura do comércio, que deve acontecer apenas no começo do mês de junho, ainda que de maneira lenta e cautelosa.
CASAMENTOS NA QUARENTENA
Empreendendo em um dos setores mais impactados pela pandemia, Giovanna Malavasi, fundadora da Mits Assessoria de Eventos, conta que os primeiros dias pós anúncio da quarentena foram assustadores para o negócio, mediante uma situação inédita e que não permitia muita margem para manobras estratégicas. “No começo, foi um grande desespero, muitos eventos sendo cancelados e remarcados ao mesmo tempo, e sempre lidando com a expectativa e dúvidas dos noivos que estavam vendo meses e meses de planejamento e sonhos terem que ser remanejados. Foi um período extremamente difícil, mas, a partir do começo de abril já começamos a entender melhor a situação, e adotar medidas mais eficazes para a gestão da crise. Atualmente, estamos aproveitando este momento para organizar procedimentos internos, reavaliar estratégias comerciais, produzir novos planos de ações para prospecção de clientes, além de produtos e serviços online para atender uma nova demanda de clientes com outras necessidades de consumo”, afirma Giovanna.
Sem muitas perspectivas de quando os eventos de grande porte como casamentos poderão voltar a acontecer, a empreendedora trabalha com a ideia de que precise reinventar o modelo do negócio de forma mais ampla. “Infelizmente, não existe muita margem para transformar os eventos diante do isolamento social, então, desde a última semana tenho me dedicado a repensar meu negócio de uma forma mais ampla, pois, caso o cenário não se modifique até meados de setembro ou outubro, teremos que buscar outras fontes de renda para manter a empresa ativa”, completa a empreendedora.
ESCOLAS DE DANÇA E ACADEMIAS
Atuando em um segmento em que o contato físico é a principal característica, Gil Alves, proprietário e fundador do Espaço Bailar, escola de danças localizada na cidade de Osasco, Grande São Paulo, acredita que não haverá uma flexibilização no isolamento social ao menos até o mês de julho, visto que mesmo após este período, o vírus continuará circulando entre os brasileiros, e o medo pode ser um fator preponderante para que as aulas sofram novas alterações. “Levando em conta que após a liberação do isolamento social, o vírus ainda estará entre nós e sem a existência de uma vacina eficaz, algumas pessoas não vão arriscar, já que a maioria de nossos clientes está acima dos 30 anos, sendo uma grande parcela inclusive acima dos 60. Neste momento de tantas incertezas, o fator que mais tem me ajudado é minha esposa, que é formada em publicidade. Estamos juntando algumas ideias, conciliando experiências profissionais, e criando algumas ações para minimizar os efeitos da crise”, afirma o empreendedor.
Entre as ações adotadas por Gil Alves no Espaço Bailar estão a implementação de aulas online, e promoções que motivem o cliente a continuar realizando o pagamento das mensalidades, inclusive como forma de ajudar o negócio a se manter ativo. “Além disso, negociamos a suspensão do pagamento do aluguel do espaço por 3 meses com o locador, o que ajudou a nos dar um respiro que estamos reinvestindo na construção de um novo site, acreditando que esta ferramenta será essencial para o momento de retomada”, completa.
PILATES
Para Dayane Araújo, fundadora do Vintage Pilates e Fisioterapia, a liberação dos serviços de telemedicina foi um fator a ser comemorado, mas que ainda não representou uma mudança perceptível no cenário da empresa. “As sessões de fisioterapia dependem muito do toque e orientações guiadas pelo profissional, por isso, acredito que a adesão como um todo não será representativa. No caso do Pilates, estamos disponibilizando aulas online para que os alunos possam praticar a qualquer momento do dia, o que tem sido muito bem aceito pela maioria deles, rendendo inclusive elogios. Além disso, também tenho realizado vídeo chamadas para quem deseja uma aula monitorada e mais personalizada, o que também tem surtido um bom resultado,” afirma a empreendedora. Mesmo com as ações em andamento e conseguindo atender boa parte das novas necessidades e hábitos de consumo de seus clientes, Dayane confessa não ter ainda uma perspectiva sobre a retomada da economia. “Como trabalhamos com os clientes em planos semestrais, muitos deles tem continuado com o pagamento das mensalidades como forma de nos ajudar a enfrentar esta crise, sendo assim, o caixa tem se mantido estável nos últimos meses, mas houve uma grande baixa no número de alunos ativos, visto que muitos trabalham nas proximidades do Studio, e com a adesão ao Home Office, a maioria decidiu por rescindir ou não renovar a matricula”.
Sobre a retomada da economia, Dayane afirma que está avaliando quais estratégias serão adotadas, mas teme pelo fato de que os meses de junho a agosto historicamente são de pouco movimento no setor, devido a chegada do inverno e férias escolares. “Este é um momento atípico em que meu maior objetivo é sobreviver como negócio, e que verei como uma vitória o simples fato de conseguir manter o atual número de clientes até o final de 2020”, completa.
MODA PLUS SIZE
Os efeitos do Coronavírus nas micro e pequenas empresas não se restringiram apenas a mercados com contato pessoal direto, isso é o que comenta o fotógrafo Paulo Gibo, fundador e proprietário da primeira agência brasileira especializada em modelos Plus Size, a São Paulo Plus Size. Para o empreendedor, o atual cenário promove um número limitado de alternativas para novos negócios em sua área, visto que boa parte de seus clientes corporativos tem reduzido custos com marketing ou ações publicitárias, o que reflete bruscamente na solicitação de modelos ou fotos para campanhas. “Em geral, temos utilizado este período de recesso das atividades econômicas para realizar ações de melhorias internas, como atualização de nosso site, fortalecimento das mídias sociais, e identificação de potenciais parceiros estratégicos para acelerar o processo de retomada dos negócios. Infelizmente, acredito que tudo será muito lento após a pandemia, cercado de incertezas dos empreendedores, e por isso mesmo, continuará afetando a economia por mais alguns meses. Nesse momento, nossos esforços estão voltados para a sobrevivência do negócio, reduzindo custos, renegociando contratos com fornecedores, e aguardando que tudo passe o mais rápido possível”, completa Paulo Gibo.
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
Com olhar experiente sobre o dia a dia do mercado de micro e pequenas empresas, Vinicius Aguiar, diretor da Bossa Comunicação, assessoria especializada na produção de conteúdo para o segmento, reflete sobre os desafios e oportunidades que serão gerados pelo novo cenário que surge para todos os empreendedores. “Considero que a assessoria como um todo é um importante aliado das empresas neste difícil momento, pois a manutenção de uma comunicação transparente e atrelada a um discurso de engajamento com a marca serão fundamentais para que esses negócios, empresários e marcas sofram o menor impacto possível, o que já representará uma grande vitória diante do atual cenário”, afirma Vinicius.
“Hoje, mais do que nunca, os clientes querem saber os detalhes por trás das marcas, entender quais são as praticas, e como eles tem se posicionado diante do atual cenário. Tem sido um desafio diário, um constante aprendizado, mas que tem gerado um resultado muito satisfatório para algumas marcas e empresas, inclusive com clientes apresentando crescimento exponencial mediante ações em mídias sociais e conteúdos publicados em veículos de comunicação mais tradicionais. Acredito que o momento atual seja de coesão entre marcas, agências e assessorias construindo um discurso de marca ainda mais consolidado, transparente e coerente para o novo consumidor que irá surgir pós pandemia”, completa o empreendedor.
ESPECIALISTA EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
Vivenciando de perto o dia a dia dos micro e pequenos empreendedores que estão tentando sobreviver a crise, o CEO da OlímpioBusiness Consultancy e criador do Programa de Mentoria Doutor Negócio, Leandro Silva, afirma que trata-se do momento mais “incapacitante” da nossa geração, em que vemos muitas estratégias e boas ideias nem ao menos saírem do papel, e que dificilmente o reflexo não será devastador sobre a economia, principalmente sobre os negócios mais frágeis e menos inovadores. “Infelizmente, a maior parte das micro e pequenas empresas não possuem ferramentas necessárias para identificar e otimizar oportunidades de mercado. Isso representará uma grande escalada no número de empresas tendo que fechar as portas, e como reflexo, o crescimento da população desempregada no país. Os primeiros resultados nos Estados Unidos já mostram que por aqui, em breve, teremos um problema gigantesco para superar na economia, e que boa parte dos negócios não está preparada”, afirma o empreendedor.
“Apesar da dura realidade que se aproxima para nossa economia, acredito que um mix de resiliência, inovação, conhecimentos e ousadia para sair do lugar comum serão os pilares para as empresas que vão sobreviver e se destacar no pós pandemia. Quem ainda acredita que vai bastar abrir as portas e tudo voltará ao normal, com certeza está correndo um sério risco, mas os empreendedores que entenderem que este atual momento representa uma oportunidade de reinvenção dos modelos tradicionais de negócios e um novo olhar mais profundo sobre canais de vendas, produtos e hábitos de consumo que vão surgir, estão bem mais preparados para assumir a dianteira e sentir de maneira mais moderada a turbulência do mercado”, completa o empreendedor.
“Assim como não há fórmula mágica para quem deseja empreender com sucesso, também não há uma receita milagrosa para superar este momento de forma mais rápida. Como dica, deixo a reflexão de pensarmos em como construir negócios mais rentáveis, com melhores margens de lucro, e acima de tudo, em como alcançar modelos que dependam cada vez menos de um único canal de vendas”, afirma Leandro Silva.
Em meio a tantas incertezas e desafios que cercam o momento empreendedor no Brasil e no mundo, a única certeza que temos é de assim como todas as crises que já existiram, em algum momento ela vai passar, e poderemos retomar a economia, ainda que de forma fragilizada e com poucas oportunidades de negócios.
A reinvenção, palavra que está na moda em todos os discursos empreendedores, se faz cada vez mais importante para que juntos possamos encontrar soluções e estratégias mais eficazes para superar este momento, e posteriormente, iniciar o maior processo de retomada e reinvenção da história de cada um de nós.
Superar este momento só nos tornará mais fortes!!!
Fonte: Redação Smart Business
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