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Como será o futuro da Economia e Negócios no Brasil pós COVID-19


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Economistas e especialistas em empreendedorismo respondem sobre os impactos da pandemia em nossa economia, e os novos caminhos para a retomada dos negócios.



Diante do atual cenário de muitas incertezas e escassez de alternativas para movimentar nossa economia e negócios durante o período de isolamento social, e principalmente, sobre como será o cenário de retomada pós COVID-19, conversamos com alguns dos maiores especialistas em empreendedorismo e economia no Brasil.

Neste bate papo especial, conseguimos colher opiniões e visões de mercado das mais distintas sobre assuntos que tem feito parte do dia a dia dos brasileiros, empreendedores ou profissionais CLT, e que terão impacto direto em nossa rotina durante os próximos meses.

Em um momento onde muitos apontam para um cenário apocalíptico e alguns para uma jornada de oportunidades, decidimos levar as principais dúvidas e pontos de discussão de nossos leitores para estes grandes ícones da economia e negócios, com a árdua missão de nos ajudar a entender melhor o cenário brasileiro, e apontar caminhos e estratégias para quem decidiu não se entregar a crise.


Confira os principais pontos abordados na entrevista:

 

COMO AVALIA AS AÇÕES DE SOCORRO CRIADAS PELO GOVERNO

Para Claudio Fernandes, economista e consultor do GT Agenda 2030 e Membro convidado do Fórum para o Financiamento do Desenvolvimento (FfD) da ONU, as ações aplicadas pelo governo brasileiro estão dentro dos limites institucionais de como funciona a economia brasileira. “As medidas do Ministério da Economia foram implementadas com atraso e sob princípios que são caracterizados como “negócios como de costume (business as usual)” em financiamento para o desenvolvimento. De forma ampla e profunda, até agora as medidas têm sido, e se mostrarão cada vez mais, insuficientes, evidência que o governo não entendeu ainda o tamanho do problema múltiplo da pandemia COVID-19. O golpe na economia no caso atual não é estanque, mas contínuo e lento. Estamos comprando tempo, mas pagando barato por algo que nos custará muito caro. Outros países injetaram recursos para pessoas que correspondem a 10% do PIB, como nos EUA e França. Aqui chegamos a 2,3%. Ainda mais, a opção do governo em beneficiar setores com redução de tributos estratégicos como o IOF compromete ainda mais a capacidade de resposta, pois aumenta o desequilíbrio fiscal, além de não impulsionar a economia a curto prazo, pois a pandemia a impede. Outro problema é a assimetria na ajuda, enquanto as pessoas receberão por três meses um valor abaixo do mínimo, o setor financeiro recebe benefícios que mantém sua liquidez imediata”, completa o economista.

Para o advogado especialista em matéria tributária, Gustavo Dalla Valle, as ações adotadas pelo governo, especificamente para as micro e pequenas empresas parecem boas, mas possivelmente serão insuficientes. “As menores empresas tendem a suportar os maiores prejuízos, de modo proporcional e, por isso, deveriam ter algum suporte diferenciado. Um exemplo claro disso diz respeito às linhas de financiamento com custo reduzido, já anunciadas, mas que, na prática, dificilmente têm chegado a essas empresas - seja porque não possuem rating de crédito ou mesmo porque têm pouco relacionamento com instituições financeiras”, afirma o especialista.

 

OUTRAS MEDIDAS A SEREM ADOTADAS

Segundo, Gustavo Dalla Valle , as medidas de auxílio às empresas para reduzir a pressão sobre seus caixas (especialmente as prorrogações e reduções tributárias e os complementos financeiros aos trabalhadores) devem seguir até que a quarentena possa ser suspensa. “Os setores mais prejudicados, obrigados a efetivamente suspender suas atividades, devem ter seu socorro ampliado, com providências específicas a eles e com o prolongamento do auxílio”.

O governo sinaliza que buscará estimular a economia, após o término da quarentena, com obras de infraestrutura e concessões públicas diversas - iniciativa que tentará trazer novos investimentos privados. As perspectivas disso são boas, mas certamente insuficientes. A economia em todas as suas áreas deve continuar a ser estimulada, com menos burocracia, com a continuidade das reformas (tributária e administrativa) e com fontes concretas de financiamento”, complementa.

 

O PÓS COVID-19 PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

Para Fábio Louzada, economista com graduação tecnológica em Gestão Financeira pela FGV, não haverá um mundo apocalíptico, porém, muitas micro e pequenas empresas devem quebrar. “Se considerarmos que seis em cada dez empresas fecham em cinco anos de atividade, quer dizer, já era difícil sem o novo coronavírus, imagina agora com a pandemia? Por isso a importância de se planejar e criar uma reserva de emergência, não é só para Pessoa Física, as Pessoas Jurídicas têm que ter caixa para superar esse momento. A boa notícia é que estão surgindo novos negócios, novas necessidades surgiram nessa crise e muitos empreendedores estão emergindo”, afirma.

Dependendo do ramo de atuação está claro que será longo o período de suspensão parcial ou total das atividades (exemplo: restaurantes, serviços de estética, consultorias, eventos, e outros que possuem atendimento ao público e, especialmente, que não têm demanda a represar - ninguém cortará o cabelo duas vezes ou almoçará mais porque deixou de fazê-los durante o isolamento)segundo, Gustavo Dalla Valle. “Nesses casos os estímulos e a ajuda governamental não poderão ressuscitar as empresas. É necessário que elas estejam minimamente saudáveis para que as medidas possam beneficiá-las. Aí entra a criatividade do empresário, reinventando sua atividade, seja oferecendo nova forma de comercialização ou prestação dos seus serviços (a entrada no mundo digital, o oferecimento de pacotes antecipados aos seus consumidores e assim por diante)”, completa o advogado.

 

SUGESTÕES PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS SOBREVIVEREM

O consultor Claudio Fernandes acredita que a crise múltipla atual também desafia a teoria e a prática microeconômica, pois a situação amplifica o significado de utilidade e essencialidade. “Pequenas e médias empresas de bens e serviços essenciais continuarão operando, possivelmente com aumento de negócios, principalmente se tiverem feito a transição para a produção e/ou distribuição digital. Já empresas de serviços não essenciais para a reprodução da vida humana, sob quarentena e distanciamento social, permanecerão fechadas durante a longa fase aguda da pandemia COVID-19. Empresas com alto nível de endividamento tem pouco espaço de manobra. O crédito no Brasil é caro, muito caro. Os bancos, um oligopólio com participação de dois bancos públicos, ainda trabalham sob premissa de alto risco, ou seja, altos juros, estrangulando a possibilidade de expansão de empreendimentos. O BNDES e os outros bancos estaduais e regionais de desenvolvimento devem ser os instrumentos principais para efetivar um plano de socorro de médio prazo”, completa Claudio.

 

COMO E QUANDO ACONTECERÁ A RETOMADA DA ECONOMIA

Para Gustavo Dalla Valle, o momento atual dificulta antever o tempo de permanência da pandemia e, mais ainda, dos seus reflexos. “Pelos levantamentos atuais, a expectativa é que o Brasil (com regiões mais e menos afetadas) atinja o ápice da contaminação entre maio e junho e, por consequência, será o período com maiores medidas de restrição econômica (quarentena e redução de atividades)”.

Na opinião do advogado, a partir de junho e julho as atividades poderão, gradualmente, ser retomadas. “Infelizmente, um grande estrago já estará feito. O caixa das empresas estará bastante debilitado para novas compras e reabastecimento, o crédito estará restrito e, especialmente, o volume do mercado menor. A retomada se reiniciará durante o segundo semestre, num olhar positivo, deve implicar num final de ano ainda instável e apenas parte do caminho. Os níveis econômicos mais próximos do começo de 2020 só devem ser verificados em 2021”, completa.

 

DÓLAR E BOLSA DE VALORES

Para Marcelo Salomão, o governo americano vai imprimir dinheiro, e isso prejudica muito a economia mundial, com dólar para o consumidor chegando a quase 6 reais. “Isso com certeza irá frear as viagens internacionais e o consumo externo, assim como as importações. Por outro lado, será ótimo para economia interna, nossa indústria e agronegócio deverá exportar mais contribuindo para o PIB, mas deve inflacionar também os preços do produto interno”, afirma o diretor executivo”, complementa.

Segundo, Fábio Louzada, o fundo do poço já chegou para a Bolsa de Valores. “O mercado já precificou as quedas nas receitas principalmente para esse ano. Empresas áreas e de turismo sofreram bastante. Porém, como o mercado já precificou um cenário péssimo, se o resultado vier ruim, porém, abaixo do esperado, a tendência é de alta para a bolsa. Por isso, vejo um cenário de recuperação rápida para o Ibovespa, puxado por resultados menos negativos do que o esperado. Já o dólar, considero ser a variável mais difícil de prever, já que existem muitos fatores por trás. O Copom deve continuar cortando a Selic aqui no Brasil, o que deve continuar pressionando o dólar. Por isso dificilmente vejo o dólar abaixo de R$ 5,00 para o final desse ano”, completa o especialista.

 

HORA DE INVESTIR?

Depende do setor econômico. Para os setores que terão crescimento sob o regime da pandemia, sim. Para setores afetados negativamente, melhor esperar a avalanche passar. Considerando aqui investimento como algo para o futuro, não crédito de contenção de crise e pagamento de contratos vencidos”, afirma Claudio Fernandes.

Segundo Fábio Louzada, para quem é conservador, o ideal é esperar a avalanche passar, já que teremos muita volatilidade ainda no mercado. “Agora para um investidor mais moderado e arrojado, é um bom momento para comprar papéis de empresas, fundos imobiliários e outros ativos que perderam preço nessa crise. Citei a palavra preço, pois muitos ativos continuam com o mesmo “valor”, porém agora mais barato. É claro que tem que analisar setor, empresa, sócio, preço, para tomar uma decisão assertiva. Mas tem muita empresa que está “barata”, ou seja, preço baixo e valor alto”, completa.

 

CHEGANDO AO FINAL DE 2020...

Para Marcelo Salomão, “será um período de retomada, mas com consumo moderado e poucos exageros, muitos passarão o final de ano em casa com suas famílias, logo, o varejo e a indústria estarão em ritmo desacelerado no segundo semestre”, afirma o especialista.


Segundo Claudio Fernandes, “a pandemia não passará enquanto não tiver garantia de saúde. Precisamos pensar melhor em como criar um novo estado perene para podermos continuar operando até a chegada de alguma solução biológica. Há um mês eu previ, mais por instinto do que por cálculo severo, que o Brasil acabará o ano com o PIB entre -5% e -10%. Como escreveu o célebre Albert Camus, em seu A Peste, para as pessoas que já pensam em abrir a economia refletir: “o bacilo não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada”. Portanto, no segundo semestre continuaremos sem futebol, sem festas, e é bem provável que em 2021 não terá Carnaval”, completa.

 

Na opinião de Fábio Louzada, “Sou otimista, acredito que será um ano ruim, com o PIB abaixo de 4% e desemprego alto, mas com perspectiva de recuperação rápida para 2021. O que me gera mais preocupação é a dívida pública e o confronto principalmente entre Executivo e Legislativo, que podem barrar reformas importantes para o crescimento do Brasil. No mais, estamos em uma posição diferente do resto do mundo, pois temos muito mais espaço para voltar a crescer”, complementa.

 

Para Gustavo Dalla Valle, “o ápice da crise deve coincidir com o término do semestre e a retomada das atividades se alongar durante a segunda parte do ano. O crescimento comparado aos patamares anteriores à pandemia só deve ser percebido em 2022, já que 2021 será a recuperação das perdas”, afirma o advogado.

 


Fontes para Matéria

Gustavo Dalla Valle Baptista da Silva

Advogado especialista em matéria tributária, sócio da LBZ Advocacia e consultor jurídico do mercado de papel há mais de 10 anos.

Fabio Louzada

Economista, possui graduação tecnológica em Gestão Financeira pela FGV (2017), pós-graduando em Finanças, Investimentos e Banking e em Liderança, Inovação e Gestão pela PUC-RS e membro da diretoria da Planejar - Associação Brasileira de Planejadores Financeiros.

Claudio Fernandes

Economista e consultor do GT Agenda 2030. Membro convidado do Fórum para o Financiamento do Desenvolvimento (FfD) da ONU.

Marcelo Salomão

Diretor executivo da Gigatron Franchising e Dot Bank

 

 

 

Fonte: Redação Smart Business

 

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